História da Fortaleza de São João
A fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro está intimamente ligada à Fortaleza de São João, formada pelos fortes-redutos de São Martinho, São Teodósio, São José e São Diogo. Nesse local, em 1565, o Capitão-Mor Estácio de Sá desembarcou com sua tropa numa praia entre o Pão de Açúcar e o morro Cara de Cão, para reintegrar a ocupação territorial de Portugal, levantando um fortim.
Os portugueses perceberam que para defender a terra, seria necessário criar uma povoação junto à Guarda de Defesa da Baía de Guanabara. Ampliada e reforçada através dos anos, recebeu oficialmente o nome de Fortaleza de São João (FSJ) em 24 de junho de 1618. A FSJ e as Baterias de São José e de São Teodósio foram edificadas sobre a península oeste da barra, totalmente inacessível através do seu costão externo e de acesso dificultado pelo escarpado do morro na parte posterior.
O Imperador Pedro II, por volta de 1863, determinou que as fortalezas da entrada da
Baía fossem totalmente modernizadas.
Iniciou-se, sobre o antigo Reduto São José, uma obra monumental, em blocos de
granito, constituída de uma galeria com 17 casamatas, em pedra lavrada, encimada
por plataforma e parapeito com 1,40 m de comprimento e um paiol à prova das armas
da época, tendo suas pedras 2,00 m de comprimento.
Em 1872, o novo Forte São José é posto em serviço, artilhado com 15 canhões Whitworth, de fabricação inglesa, calibre 32 e 70 libras.
O Imperador veio, pessoalmente, à Fortaleza de São João para inaugurá-la.
Na República, a Fortaleza de São João recebeu armamento moderno, mas as obras previstas não foram executadas.
A FSJ foi guarnecida por Batalhões de Artilharia de Posição e Grupos de Artilharia de Costa até 1991, honrando a memória de Estácio de Sá e dos heróis combatentes que deram berço à Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Na Fortaleza de São João já funcionaram a Escola de Aplicação do Exército (1855), a Escola de Aprendizes Artilheiros (1880), o Centro de Instrução de Artilharia de Costa (1934), o 1º Distrito de Artilharia de Costa (1934), o Arsenal da Urca (1944), o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (1970), a Companhia de Comando e Serviços e o NPOR do IME (1975), e a Bateria de Artilharia de Costa do CCFEx (1991).
No paiol, atualmente, funciona o Museu Histórico da Fortaleza de São João.
Projeto Baía da Guanabara e Fortes
Tour Virtual das Fortalezas da Entrada da Baía da Guanabara e do Santuário Basílica de São Sebastião
Este projeto conta um pouco da história da fundação da cidade do Rio de Janeiro, através do tour virtual às fortalezas que defenderam a cidade no momento de sua fundação e ao longo dos séculos sucessivos.
Em 01 de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em terreno plano entre o Morro Cara de Cão e o Morro do Pão de Açúcar como base para sua luta contra os invasores franceses, vencida dois anos depois. O marco de fundação da cidade é emblema desse processo.
Os portugueses, sob o comando de Mem de Sá, decidiram que a cidade fosse instalada em plano elevado e escolheram o Morro do Castelo para tal. Fundou-se neste local a Igreja de São Sebastião, primeira Sé Catedral da cidade, para onde foram trasladados o marco de fundação da cidade e os restos mortais de Estácio de Sá. Com a demolição do Morro do Castelo no início do século XX, foi construída a Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, na Tijuca, para onde foram levados em 1922 os restos mortais do fundador da cidade e o marco de fundação em pedra. O presente tour virtual inclui além das fortalezas, também a Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos.
História das fortalezas de São João (Urca) e Santa Cruz da Barra (Niterói).
Depois de dezessete anos de domínio francês, em 1567, a luta terminou com a derrota dos invasores e sua expulsão do litoral marítimo. Estácio de Sá saiu flechado no rosto e no dia 20 de fevereiro morreu. Com a eliminação dos franceses, Mem de Sá transferiu a cidade do local em que estava implantada para outro, mais elevado e abrigado, no morro do Descanso, posteriormente denominado Morro do Castelo.
Juntamente com indígenas de Araribóia, enquanto Estácio de Sá vencia os tamoios, aliados dos franceses, nos entrincheiramento de Uruçu-Mirim (Flamengo), Mem de Sá atacava a ilha de Villegaignon e, depois de dominá-la, investia contra Santa Cruz, último reduto dos franceses, desbaratando-os completamente.
A Fortaleza de São João, com origem no primitivo fortim levantado no promontório à esquerda da entrada da barra, no morro de Cara de Cão, por Estácio de Sá, defendia a entrada da barra e as praias existentes entre o Cara de Cão e o Pão de Açúcar.
Melhorias feitas pelos governantes em suas épocas
Após desentendimentos entre um corsário holandês e a coroa portuguesa no Golfo da Guiné em 9 de maio de 1599, Salvador de Sá melhorou a artilharia da Fortaleza de Santa Cruz, aumentando-a para 20 bocas de fogo. Em 1624, estava mal aparelhada e não possuía meios para enfrentar um ataque por parte dos holandeses que se encontravam em Salvador.
Embora a Carta Régia de 17 de outubro de 1668 mandasse colocar as fortalezas em "pé de guerra", os governos do Rio de Janeiro se descuidaram das medidas de defesa e se preocuparam mais com o progresso da cidade, dia a dia mais crescente. A metrópole, porém, que se interessava em defender o porto, mandou em 1674, pagar os soldados e os índios das Fortalezas de São João e de Santa Cruz, para que os trabalhos prosseguiram.
Em 1696, o Governador Sebastião de Castro Caldas terminou as obras de defesa e os paredões sobre o costão de Santa Cruz.
Ao fim do século, franceses continuaram atacando a costa do Rio de Janeiro. O governador Sebastião de Castro Caldas, esperando represálias dos oficiais da Ilha Grande, Santos e São Sebastião, procurou aperceber-se para qualquer ataque, mandando reforçar as fortalezas de Santa Cruz, São João e Santiago e levantar as baterias da Ponta de Gragoatá e da Ilha de Villegaignon, “no que foi muito ajudado pelo povo, que espontaneamente concorreu com 8.000 cruzados para essas obras”.
O Rio de Janeiro, cuja população já se estendera pela planície, entre os Morros de Santo Antônio, Conceição, São Bento e do Castelo, sofreu no dia 11 de setembro de 1710 a segunda invasão francesa. Uma esquadra, composta de 6 navios, sendo 5 de combate e uma balandra (transporte) com mais de 1000 homens de desembarque, sob o comando de Charles Duclerc, passou aos 6 de agosto por Cabo Frio e surgiu depois em frente à Guanabara no dia 17. A Fortaleza de Santa Cruz, que não fora atendida no “ultimatum”, abriu fogo e atingiu a capitania, recuando Duclerc com a esquadra e indo ancorar, no dia 27, na ilha Grande, saqueando-a e, depois de tentar desembarcar em Copacabana e no Arpoador, seguiu para Guaratiba, onde, no dia 11, desembarcou com um contingente, atingindo posteriormente, pelo interior, o coração da cidade, na atual Praça 15, onde foi derrotado.
Era evidente que a defesa militar devia ser melhorada e assim entendeu Portugal, determinando (1711) ao Governador Castro de Morais, que, em caso de ameaça de invasão, fechasse a barra do Rio de Janeiro, de dia e de noite, com uma “cadeia resistente presa em sítio seguro”; o que foi feito com um argolão em Santa Cruz e outro em São João, para proteger a entrada da barra. No dia 29 de agosto, porém, um patacho inglês, vindo de Lisboa, trouxe aviso de que corsários franceses preparavam esquadra para conquistar a cidade e, no dia 5 de setembro, o Sargento Mór de Cabo Frio informou que, na ilha de Ana, 16 naus estavam orientadas para Rio de Janeiro. As fortalezas foram guarnecidas. Santa Cruz recebeu 240 homens, para os 44 canhões que se encontravam abandonados, além de uma companhia paga, duas ordenanças, 15 artilheiros e oficialidade. Mas, não aparecendo a esquadra no fim de alguns dias, mandou o Governador desguarnecê-las, para reduzir as despesas, “deixando-as tão destituídas de gente como não costumam estar nem ainda em tempo de paz”.
O revés e o assassinato de Duclerce irritaram bastante Luiz XIV e ocasionaram nova expedição, armada desta vez por particulares de Saint Malo, para punir a afronta e gerar lucros. Duruay Trouin, comandante da nova esquadra, forçou, no dia 12 de setembro, a barra do Rio de Janeiro, perdendo 300 homens dos quais 80 morreram, e se adentrou na baía favorecido por um nevoeiro, sem que as fortificações pudessem defendê-la. Fundeou depois junto à ilha das Cobras, cujas fortalezas estavam abandonadas como as outras, com exceção da bateria de Villegaignon que, procurando combater, ficou inutilizada pela explosão do paiol, morrendo parte da guarnição.
A invasão de Duguay Trouin trouxe Portugal à realidade e a Carta Patente de 17 de julho de 1712 outorgou poderes ao Brigadeiro João Maia para examinar, reparar e construir fortificações no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. O Governo português, continuando no firme propósito de defender convenientemente o Rio de Janeiro, aprovou o Plano de João Maia e mandou construir as Fortalezas da Conceição da Lage e da Ilha das Cobras, e determinou que as de São João e Santa Cruz da Barra “deveriam ser levadas à última perfeição” e a “fortaleza da Lage e a de São João, que lhe fica em frente, estivessem sempre em completo pé de guerra”.
Logo após a Independência, receoso de uma expedição portuguesa em favor do General Madeira, o Imperador designou o Brigadeiro Antônio Elisiário de Miranda e Britto para apresentar um sistema de defesa da barra e do sul, fazendo executar algumas das suas ideias, entre as quais as novas fortificações de Guaratiba, Mangaratiba, Sepetiba, Itaguaí e outras, ficando as fortificações da Barra como estavam, julgadas como suficientes.
Em relatório de 1859, o Ministro da Guerra Manoel Feliciano de Souza e Mello caracteriza o estado de abandono: "De quanto aos nossos antepassados nos legaram, apenas nos restam Santa Cruz, Lage e São João, desgraçadamente em pior estado do que aquele em que as recebemos. Se, na época da construção daquelas fortalezas, podiam elas, com vantagem, resistir a um insulto e repeli-lo, hoje que os meios destruidores tem feito aos progressos que se conhecem, força é confessar de público, o que por ninguém é ignorado: as nossas fortificações não estão em condições de impedir a entrada de uma esquadra inimiga, ainda que pequena".
O Imperador Pedro II, por volta de 1863, determinou que as fortalezas da entrada da Baía fossem totalmente modernizadas. Iniciou-se, sobre o antigo Reduto São José, uma obra monumental, em blocos de granito, constituída de uma galeria com 17 casamatas, em pedra lavrada, encimada por plataforma e parapeito com 1,40 m de comprimento e um paiol em forma de abóbada à prova das armas da época, tendo suas pedras 2,00 m de comprimento.
Em 1872, o novo Forte São José é posto em serviço, artilhado com 15 canhões Whitworth, de fabricação inglesa, calibre 32 e 70 libras. O Imperador veio, pessoalmente, à Fortaleza de São João para inaugurá-lo.
No paiol, atualmente, funciona o Museu Histórico da Fortaleza de São João.
Em 1831 a Fortaleza de Santa Cruz foi desarmada e em 1863, por motivo da “Questão Christie”, teve iniciadas as construções das casamatas sobre a antiga bateria descoberta ao nível d'água; e, logo que ficou concluído o 1º andar com 20 casamatas, (“Bateria 25 de Março”), foi elevado um outro com 21, (“Bateria 2 de Dezembro”) e sobre este uma bateria, à barbeta para canhões de grosso calibre (“Bateria Santa Tereza”). Em1885, possuía 145 canhões de grosso calibre, incluídos 24 da área da Praia de Fora.
Em 1874 foi armada com artilharia mais moderna, ficando as baterias à barbeta com canhões de alma lisa. Na bateria do Imperador, em 1872, foram instalados 2 canhões Armstrong de calibre 155, e montados canhões Whitworth de calibre 120 nas outras baterias.
Depois de 1914, quando foi inaugurado o Forte de Copacabana, nada mais se fez no sistema de Defesa do Porto do Rio de Janeiro, melhorando apenas as condições de vida nas fortificações, construindo-se praças de esportes, aquartelamentos e aperfeiçoamentos de pouca monta.
Fontes:
1) PONDÉ, F. P. A., A Defesa Militar do Porto da
Cidade do Rio de Janeiro em Quatro Séculos, Imprensa do Exército, Rio de Janeiro, 1967
2) Roteiro de Visitação ao Sítio Histórico da Fortaleza de São João, Elaborado pelo Sítio Histórico Fortaleza de São João e atualizado em 10.04.2023